O VIRA-PORCO DA MATINHA

Ilustração: Railson Wallace

Era mês de janeiro, Dona Filó, residente no Bairro da Matinha, cidade de Igarapé-Miri, foi ao velório de um amigo juntamente com sua filha Chiquinha, uma amiga conhecida como Dona Flor e outros vizinhos do bairro. Já passava das 23 horas, e ficando por mais alguns minutos no velório, Dona Filó convidou Dona Flor e demais acompanhantes para ir embora.

Em caminhada de volta para casa, o grupo de pessoas passou pela Rua Lauro Sodré, onde acontecia em um terreiro de Umbanda, um festejo dedicado aos caboclos. Ao se deparar com a celebração, Dona Flor e seus vizinhos seguiram adiante, já Dona Filó e sua filha, ficaram no local aguardando o benzimento, que aconteceria por volta das 23 horas e 30 minutos. 

Posteriormente, um caboclo incorpora em velha Sinhá, a chefe do terreiro, que logo fez um anuncio. Assim, levantou-se no meio dos que ali estavam e disse:

- Gente, faltam quinze minutos para a meia noite, todo mundo deve permanecer quieto, sentado e em silêncio. 

Dona Filó que era levada, logo disse: 

- Eu já vou embora, minha filha tá querendo ir, tá com muito sono.

Ao sair do barracão, Dona Filó e Chiquinha seguiram até a esquina da Travessa Moisés Levi. Naquele local, havia uma grande poça de água, acumulada, pois era inverno e as chuvas eram constantes. Daquela pequena lagoa, saiu um porquinho preto, que se sacudia, com o objetivo de tirar a água acumulada em seus pelos. 

Ao chegar próximo ao Barracão da Tia Coló, que ficava de frente ao local onde hoje está a Escola Ana Dalila, o pequeno porco começou a se esfregar-se nas paredes de uma casa, como se estivesse sentindo muita coceira. Devido a precária iluminação do local, Dona Filó e sua filha, só escutavam os barulhos emitidos pelo contato da pele do animal com a madeira da casa onde o mesmo se esfregava. 

Dona Filó, logo tentou espantar o porquinho:

- Passa daí, bora, passa daí...

Após, alguns minutos tentando afugentar o animal, Dona Filó notou que o porquinho se transformava em algo anormal, assustada, esfregou os olhos, pois a iluminação era precária, e tudo aquilo que via, poderia ser apenas fruto de sua imaginação. Porém, ao se aproximar do Porco, Dona Filó, percebeu que sua imaginação não estava lhe pregando uma peça, ao contrário aquela coisa era real.

Acontece que aquele porquinho, aparentemente inofensivo, havia se transformado em um enorme porco, peludo, preto, com grandes dentes que saiam boca e os olhos que pareciam brasas de tão vermelhos. Ao perceber tal situação, Dona Filó puxou sua filha de apenas sete anos para trás de si, e tentou sair do local, andando de costas, vagarosamente. 

Porém, aquela criatura bizarra avançou em sua direção, batendo os dentões, com espumas saindo pelos lados da boca. 

Dona Filó, ainda tentou espantar aquele animal assustador:

- Passa daí, sai, passa daí...

Mas suas tentativas de nada valiam, aquele grande porco, acabava investindo mais ainda contra as duas. Apavorada, Dona Filó, carregou sua filha nas costas e saiu correndo de volta ao terreiro de onde havia saído. Chegando ao barracão, meteu o pé na porta, derrubando a mesma, foi um susto geral.

Ao entrar no local, só deu tempo de colocar Chiquinha no chão, pois logo aquela senhora desmaiou. Foi um alvoroço só, todos perguntavam:

- O que foi? O que aconteceu? 

Ainda assustada, Chiquinha, respondeu:

- Foi um porco preto enorme que correu atrás de nós.

Ao ouvir a declaração da menina, o caboclo que estava incorporado na velha Sinhá e havia alertado para ninguém sair do local, antes do horário previsto, levantou-se e disse:

- Eu avisei que não era para ninguém sair daqui, eu falei.

Após o ocorrido, alguns homens saíram do barracão em busca do animal, mas não encontraram nada anormal na rua. Enquanto isso, as mulheres que estavam no terreiro, tentavam reanimar Dona Filó que ficou desacordada por alguns minutos. 

Quando tudo parecia ter voltado ao normal, chegou ao local, o filho da velha Sinhá, contando que havia sido atacado por uma criatura estranha parecida com um grande porco, nas proximidades do local onde ocorreu o ataque a Dona Filó e sua filha. Mais uma vez as pessoas que estavam dentro do barracão, saíram com pedaços de paus, ao encontrarem o bicho, perseguiram a criatura, mas não conseguiram alcançar, pois o mesmo sumiu de repente entre a Travessa Moisés Levi e Rua Rui Barbosa. 

Segundo os moradores mais antigos do Bairro da Matinha, quando o relógio ultrapassa a meia noite, a maldição termina e o grande porco preto se transforma novamente em um homem, que volta a circular normalmente entre as pessoas daquela rua, sem que seja reconhecido, poucas pessoas acabam descobrindo o segredo, mas não se atrevem a falar com medo.

O fato ocorrido com Dona Filó voltou a ocorrer com outras pessoas. Diariamente, boatos se espalhavam, sobre pessoas que foram atacadas pelo grande porco preto. Falam ainda que o grande porco costuma passar pelos quintais e ruas da Matinha, amedrontando os moradores daquele bairro.



Material cedido por alunos da Faculdade Aliança Polo de Igarapé-Miri.

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