O BOTO SEDUTOR DO RIO MAMANGAL

Ilustração: Railson Wallace

Muito conhecido, Crispim morava na foz do Rio Mamangal Grande, afluente do Rio Meruú-Açu, município de Igarapé-Miri. Morava com seus familiares, o qual tinha uma namorada de quem muito gostava e tinha um ciúme doentio. Embora sendo morador próximo, o transporte era feito somente em canoa, em virtude de ser a área de várzea, difícil para caminhar.

Crispim, jovem e bem disposto, ficava sempre a conversar com a namorada até as 20 horas, quando o pai dela dava boa noite, ela despedia-se dele, e Crispim ia para sua casa. Certa noite, após chegar a sua residência, achou sua mãe doente, motivo pelo qual seu pai mandou-o até a casa de um comerciante que morava próximo para comprar um medicamento. 

No trajeto da viagem teria que passar pela casa da namorada. Ao fazê-lo, avistou um na porta da casa de sua amada, um vulto de um homem vestido todo de branco. Crispim não se conformou e foi até o local, ao chegar constatou que o homem não estava, mas lá. O sangue lhe subiu a cabeça, ao mesmo tempo um frio lhe percorreu todo o corpo e Crispim acabou esquecendo o objetivo da viagem.

Crispim resolveu subir a ponte que era feita de estivas de seis buritizeiros e ao chegar em frente a casa bateu na porta e contou tudo o que tinha visto ao pai de sua namorada que fez algumas observações e deu uma lamparina para Crispim que logo voltou para embarcar na canoa para comprar o remédio. 

Quando Crispim se aproximou da margem do rio onde estaria a canoa, a viu flutuando na correnteza, quando de repente o homem vestido de branco apareceu no final da ponte de buritizeiros, dando-lhe um grande susto. Crispim caiu na lama e a lamparina apagou-se. A pessoa vestida de branco pulou na água e após alguns minutos, Crispim viu um boto boiando e pulando fora d’água cerca de seis vezes.

Com isso Crispim deixou de ir a noite conversar com sua namorada, aproveitando apenas os domingos para as visitas, dando ciência de tudo para o pai da moça.

Passado nove meses, a moça sentiu-se mal, com fortes dores e com poucas horas deu a luz a uma criança, branca, bonita e que só poderia ser filha de boto.


Retirado do livro "A Fêmea do Cupim no Mundo do Folclore" de Eládio Lobato.

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