Há muito tempo, sem marco cronológico exato, aconteceu um fato com três mulheres que moravam às margens do rio Meruú, numa casinha bem simples de madeira, que ficava em uma ribanceira, cercada por muitas árvores.
Na verdade essas mulheres eram irmãs e uma delas estava de parto.
Tudo aconteceu numa noite de luar. Quando dormiam, uma delas, a mais velha, teve um sonho duas vezes consecutivas. No sonho ela ouvia uma voz que dizia: "Pega uma xícara com leite do peito da tua irmã que está de parto e joga na minha boca. Eu estarei te esperando de boca aberta na beira do rio, na cabeceira da ponte da tua casa. Como recompensa, tu e tuas irmãs receberão uma imensa fortuna e eu me livrarei de um encanto maldito. Tudo deverá ser feito sem medo".
Assustada com o sonho, aquela mulher acordou desesperada e contou para as irmãs o que havia sonhado e o quanto este sonho parecia ser real.
As duas irmãs concordaram que fizesse o que aquela voz estranha pediu em sonho. Espremeram o leite na xícara, pegaram uma vela e partiram para lá . De repente, se depararam com uma enorme cobra de boca aberta e olhos arregalados que brilhavam como uma lanterna.
A mulher que sonhou estava na frente das duas irmãs com a xícara de leite na mão, começou a ficar com medo e a tremer, aliás, todas as três ficaram muito nervosas.
Em pânico, ela jogou de forma descontrolada a xícara em direção a boca da cobra, mas errou a pontaria e o leite foi derramado na praia. Aquele animal ficou descontrolado, deu um urro muito forte e um mergulho para o fundo do rio que provocou um banzeiro tão grande que derrubou todo o barranco de terra, quase levando a humilde casa para o fundo do rio.
As consequências foram desastrosas e tristes. Imediatamente surgiu uma grande dor de cabeça naquelas mulheres e começaram a gritar e falar besteiras. A mulher que estava de parto e deu o leite, morreu antes do amanhecer e as outras duas desembarcaram na cidade de Igarapé-Miri, logo ao amanhecer amarradas e foram levadas para serem tratadas no SESP.
Os fiéis que estavam na missa das seis horas da manhã presenciaram a chegada delas e o desespero em que se encontravam.
A segunda mulher que teve o sonho morreu antes do meio-dia, e a terceira teve problemas mentais e ficava perambulando pelas ruas o tempo todo. Quanto a cobra grande, até hoje ela vive encantada no fundo do rio Meruú e de vez em quando se tem notícias de que pessoas ribeirinhas que viajam nas freteiras para vir a cidade de Igarapé-Miri durante a madrugada, costumam encontrar ela boiando sobre as águas do rio.
Fonte: Narrativas Orais Amazônicas: Memória, Identidade, Cultura e Linguagem
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