A NOIVA DA MAROMBA

Ilustração: Railson Wallace

A profissão de taxista em Igarapé-Miri, remonta dos idos da década de 70. Dois taxistas em especial, iniciaram as atividades na nossa cidade, o Sr. Antônio e Airton, que era conhecido como Ceará, por pura coincidência, ambos eram nordestinos.
Certa vez, Seu Antonio, foi fazer um frete até a cidade de Abaetetuba, como era de costume quase todos os dias. Desta vez, levaria um passageiro de nome Lúcio. 
Nessa época a cidade de Igarapé-Miri tinha somente uma via terrestre de entrada e saída, que era a Rodovia Moura Carvalho que inicia no final da Avenida Carambolas, ao lado do Cemitério Bom Jesus dos Passos, e vai direto até a PA-151 na Maromba.
Era véspera de finados, as famílias de Igarapé-Miri, além de realizar as visitas aos cemitérios da cidade e interiores do município, também iam acender velas para os parentes enterrados em outras cidades. Naquele dia, Seu Antonio por volta das 12 horas, como combinado, foi buscar um passageiro, que era bastante conhecido, pois era quem tomava conta do motor que gerava energia para a cidade, que funcionava na antiga Usina de Força e Luz, local onde hoje é a sede da Rede Celpa.
Seu Antonio, buscou o passageiro em sua casa e seguiu viagem rumo ao seu destino, que era a cidade de Abaetetuba. A estrada era de terra batida, assim, muitos buracos dificultavam o trajeto do antigo fusca, que era a marca do carro daquele taxista.
Seu Lúcio, o passageiro, era um homem calmo e de poucas palavras. Por conta do longo trajeto, Seu Antonio puxou conversa com o passageiro, para descontrair a viagem.
Como o Sr. Lúcio trabalhava ao lado do cemitério e a energia gerada pelo motor a diesel era ligada ás 18 horas e desligada ás 22 horas, Seu Antonio imaginou que talvez o seu passageiro já tivesse  visto alguma coisa estranha, algo sobrenatural, no dia a dia, melhor dizendo na noite, isto porque, depois que ele desligava o motor, a cidade ficava totalmente escura e silenciosa, sendo que quase sempre, ele ainda fazia a limpeza do local, troca de óleo e outras coisas, saindo muito tarde da antiga usina.
Foi então que o passageiro saiu do seu silêncio e disse que não gostava de comentar sobre o assunto porque entendia que os mortos devem descansar em paz. Com muita insistência de Seu Antonio, o Sr. Lúcio  resolveu revelar um fato que ele presenciou. Disse que certa vez, estava se preparando para retornar para a sua casa, após desligar o motor da Usina de Força e Luz.
A cidade estava em total escuridão, não havia ninguém nas ruas. Quando saiu da usina, olhou para o lado do cemitério, como costumava fazer todas as noites, e ao olhar para o lado oposto, para o largo onde morava, em direção à Capela de Bom Jesus, que foi reerguida no mesmo local, na esquina da Trav. Generalíssimo Deodoro com a Padre Vitório, avistou uma mulher que usava um vestido todo branco, e com uma vela acesa nas mãos.
A mulher estava saindo da Capela e vinha em direção ao cemitério. Ele disse que se arrepiou todinho, e com medo daquela cena, escondeu-se na usina, apagando a lanterna que tinha ligado pra ir embora. Ficou olhando pela fresta da porta, e viu que a mulher que agora passava em sua frente, tinha os cabelos loiros e usava um vestido branco, parecendo flutuar. Depois que aquilo passou, por curiosidade Lúcio acompanhou com o olhar até ela entrar no Cemitério. Naquela noite disse ele, que não conseguiu dormir, imaginando aquela cena.
Ao chegarem em Abaetetuba, Antonio deixou o passageiro e retornou para Igarapé-Miri imediatamente. Devido as péssimas condições da estrada, a viagem era demorada e já eram quase 5 horas da tarde. No retorno, seu Antonio voltou sozinho e veio pensando naquele relato que ouviu do passageiro.
Ao se aproximar da cidade, exatamente na famosa ponte da Maromba, por volta das 18 horas, avistou uma mulher que fazia sinal para que ele parasse, ela estava vestida toda de branco e tinha em uma das mãos, um buquê de flores. Antonio preocupado por se tratar de uma mulher sozinha e em um lugar afastado, parou para levar aquela passageira, que para ele, estava desprotegida.
Seu Antonio ao parar, ouviu da mulher, um pedido de ajuda para chegar na cidade. O taxista então, decidiu ajudar aquela mulher, e permitiu que ela entrasse no táxi com o buquê que trazia na mão. Ao dar seguimento a viagem, perguntou onde a mulher ia ficar, e ela respondeu que ficaria em casa. Antonio então perguntou o endereço da moça, e ela respondeu somente que era sua vizinha.
Pelo trajeto, Antonio entrou na cidade, e ao passar pela Goela da Morte, avistou a sua casa, que ficava atrás do cemitério, e disse para a estranha passageira que não lhe cobraria nada mas que esperasse no carro enquanto ele daria uma parada em frente à sua casa para ir ao banheiro, no que a mulher concordou.
Antonio parou em frente à sua residência e foi direto ao banheiro, deixando aquela estranha mulher sozinha em seu veículo. Mas quando retornou, a mulher não estava mais no carro, porém o buquê que antes ela segurava com tanto apego, estava no banco do carona, onde a mulher ficou sentada durante a viagem.
Antonio estranhou aquele gesto e resolveu seguir de carro até a esquina da antiga Usina de Força e Luz, e lá estava um sapateiro conhecido pelo apelido de Caroncho. Este, era morador antigo da esquina oposta a antiga usina, e morava bem em frente ao cemitério.  
Antonio perguntou ao sapateiro, se ele tinha visto uma mulher loira e vestida de branco passar naquela esquina. De pronto, Caroncho informou que sim, ela teria vindo da estrada (Rodovia Moura Carvalho), e entrado no Cemitério Bom Jesus. Antonio então resolveu descrever a mulher para ter certeza, e no final caroncho confirmou tratar-se da mesma pessoa.
Assustado, Antonio ficou pálido, e Caroncho notando a situação do amigo perguntou o que estava acontecendo. Neste momento, Antonio saiu do carro com o buquê de flores na mão e narrou o que Lúcio lhe contara durante a viagem. Os dois se olharam e decidiram ir até o cemitério a procura da mulher. Já passava das 18hs e alguns minutos depois de adentrarem no cemitério, Caroncho gritou:
- Lá está ela, é aquela!
Ao virar-se, Antonio não viu ninguém, então perguntou ao sapateiro:
- Onde?
Foi então que Caroncho apontou para uma sepultura onde destacava-se a fotografia de uma mulher, e sob a mesma os dizeres “Aqui jaz M.P.R” nascida em 01/11/1950, falecida em 01/11/1969. Depois de ficarem mudos por um tempo, constataram tratar-se da mesma pessoa.
Antonio  lembrou do buquê que ainda estava intacto em suas mãos, então depositou suavemente as flores sobre a sepultura. Depois, saíram correndo assustados.
Durante algum tempo, Caroncho acendia velas no túmulo da mulher, pedindo paz para sua alma.

Material cedido pelo Sr. Gelffson Lobo (Professor Gel).

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