O REINO DOS MAMANGAES

Ilustração: Railson Wallace

Há muito tempo atrás, habitava as cabeceiras do rio Mamangal na junção com o Igarapé Tantin, uma tribo indígena. O tuxaua dessa tribo era um velho valente de nome Semon, que era casado com uma linda índia chamada Semy. Semon estava em seu segundo casamento, tendo com a primeira esposa alguns filhos.

Semy era jovem, linda e atraente, com o tempo a bela cunhã enamorou-se do filho mais velho de seu marido, e propôs ao rapaz o seu amor em troca da morte do líder Semon.

Em um dia do mês de agosto, estando o cacique dormindo em sua maloca, construída de folhas de ubuçu, seu filho encheu de folhas secas de inajá os arredores da oca onde seu pai dormia, e lançou fogo com um facho.

O velho acordou sob o calor das chamas que já haviam tomado conta de toda a oca. Desesperado, Semon correu para a porta tentando fugir, mas ela estava completamente amarrada com fortes cipós de timbó-titica.

Louco de desespero, o pobre velho arremeteu-se contra a porta, e por entre as chamas, arromba-a finalmente, ao sair viu a mulher e o filho que lá fora se abraçavam.

Então, Semon assim descobriu a miserável traição que lhe armaram, e furioso o tuxaua bradou:

-Ai-a-há, vinga-me, vinga-me!!!

A esta invocação, apareceu uma deusa e disse:

-Morre em paz Semon, que eu te vingarei.

E ao mesmo tempo ordenou:

-A mim meus filhos! Vingai Semon, sepultem Semy e seu enteado.

Nesse momento surgiram da terra milhões de mamangaes(abelhas), que se lançaram sobre Semy e seu amante, perseguindo-os e trazendo os dois para o local do crime, onde pagaram com a vida a infame traição que a pouco praticaram.

Sobre seus corpos os mamangaes levantaram enormes montes de terra, cujo trabalho demorou o período de três meses. Ao fim do sepultamento as abelhas recolheram-se sob a terra onde os traidores infiéis foram sepultados.

Amedrontados, o restante da tribo fugiu para o rio Meruú, abandonando suas malocas.

Desde essa ocasião, quando chega o mês de agosto, os mamangaes aparecem aos milhões e vagam pelo espaço de três meses naquele mesmo local como se ainda estivessem à procura dos dois infiéis. 

Até que no final do mês de outubro, de novo se recolhem a terra no mesmo lugar onde estão sepultados os dois principais protagonistas dessa horrível tragédia.


Fonte: Chronica de Igarapé-Miry pelo Tenente-Coronel Agostinho Monteiro Gonçalves d’Oliveira 

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