A MOÇA DO CEMITÉRIO BOM JESUS

Ilustração: Railson Wallace

O caso mais antigo sobre a Moça do Cemitério Bom Jesus que temos conhecimento até o momento, aconteceu no dia 16 julho do ano de 1996. Dênis Araújo era um jovem de 23 anos, nascido em Belém, mas que há dois anos (desde 1994), morava na Cidade de Boa Vista, capital do Estado de Roraima.

Em julho de 1996, Dênis estava de férias de seu trabalho em Boa Vista e decidiu visitar os seus familiares em Belém. Na capital paraense, conheceu a esposa de seu irmão, a sua cunhada, uma miriense, que o convidou para passar o mês de julho em Igarapé-Miri, pois durante esse período, acontecia uma grande festividade religiosa que movimentava toda a região, a Festa de Sant’Ana, padroeira da cidade.

Dênis embarcou para Igarapé-Miri, junto ao seu irmão, sua cunhada e dois amigos. Ambos se hospedaram na casa da mãe da esposa de seu irmão. Eles chegaram em Igarapé-Miri na manhã do dia 16 de julho, no exato momento em que acontecia o Círio de Sant’Ana, o visitante logo saiu para conhecer a cidade.

As 23 horas do primeiro dia da festividade, Dênis saiu para uma festa que acontecia no antigo Salão Tropical, acompanhado de seu irmão e sua cunhada. A festa era comandada pela aparelhagem Equatorial. Ambos se divertiram muito durante a noite, até que as 3h da madrugada, eles foram embora, mas Dênis decidiu ficar na festa. As 4 horas, apareceu uma moça vestida toda de branco que abraçou e beijou Dênis, ambos namoraram a madrugada toda. A moça misteriosa levou Dênis para um canto escuro do Salão Tropical, onde ficaram abraçados e trocando carícias.

As 5h30 da manhã, a moça decidiu ir embora, convidando Dênis para acompanha-la, andaram juntos, de mãos dadas pela rua Padre Vitório, até chegarem no portão do Cemitério Bom Jesus, que estava fechado. Em questão de segundos, quando Dênis virou o rosto para ver se alguém presenciava a cena, ao olhar novamente para o portão, a moça já estava dentro do cemitério, Dênis pulou o muro para segui-la.

Dentro do cemitério, a moça sentou-se em um túmulo, e Dênis deitou-se em seu colo, ela lentamente foi se deitando em cima da sepultura. Naquele momento, Dênis adormeceu profundamente, acordando somente as 6 horas da manhã, com o sol batendo em seu rosto e o barulho dos trabalhadores do Cemitério abrindo o portão.

Ao levantar, viu o nome de Arissandra na sepultura e saiu assustado do cemitério, os trabalhadores ficaram olhando para Dênis, estranhando aquela cena incomum. Na esquina dom Cemitério, encontrou o irmão e a cunhada que o procuravam. Dênis explicou o que havia acontecido e juntos entraram no Cemitério Bom Jesus. Ele mostrou para a cunhada, a sepultura onde dormiu e ela logo lembrou da história de Arissandra, explicando que todos os anos ela aparecia para encantar os visitantes durante a Festa de Sant’Ana.

Outro caso aconteceu no dia 26 de julho do ano de 2002, último dia da tradicional Festividade de Sant’Ana de Igarapé-Miri. Durante o período do festejo dedicado à padroeira, a cidade recebe milhares de turistas vindos dos municípios vizinhos ou até mesmo pessoas vindas de outros estados do Brasil, ou de outros países.

Tinha chegado para participar da festividade em Igarapé-Miri, um jovem chamado Marcos, que morava na cidade de Moju. Ele ficou hospedado na casa de um amigo que residia no Bairro da Matinha.

Às 18 horas, Marcos saiu sozinho para o arraial, onde ficaria até o horário da queima de fogos, depois, iria para uma festa em um salão que existia na cidade. Ao chegar no arraial, conheceu uma moça muito bonita e educada, que vestida toda de branco, se apresentou pelo nome de Arisandra. Marcos, ao abordar a moça, pediu algumas informações, pois pouco conhecia a cidade de Igarapé-Miri, mas ficou conversando por horas com aquela jovem. Juntos, tomaram sorvete, brincaram no parque, e depois, acabaram namorando.

A moça era tão bonita, que mesmo a conhecendo por pouco tempo, Marcos logo se apaixonou. As horas foram passando, e assim que o relógio marcou as 23 horas e 45 minutos, faltando pouco tempo para a queima de fogos de encerramento da Festividade, a moça despediu-se, e desesperada, disse que tinha que ir embora, pois seu pai era muito ciumento, e algumas vezes, até mesmo violento, e não permitia que ela chegasse tarde em sua casa, pois era duramente castigada quando isso acontecia.

Não querendo perder a moça, Marcos disse que a levaria até à sua casa, e a pediria em namoro para o seu pai. A moça falou que não, pois ele de forma alguma, aceitaria que ela namorasse, e depois, saiu andando com muita pressa.

Escondido, Marcos seguiu a moça, que saiu do Largo de Sant’Ana, e desceu pela Avenida Carambolas, até à Rua Padre Vitório, onde fica a entrada do Cemitério Municipal Bom Jesus dos Passos. Escondido atrás de uma das mangueiras da Praça Sarges Barros, Marcos viu a moça entrar no cemitério, e sumir na escuridão.

Curioso, Marcos entrou no cemitério, à procura de sua amada, mas o que viu, o deixou paralisado, pois a primeira sepultura que avistou, estava escrito o nome Arisandra, o mesmo nome da moça que passou a noite com ele no arraial de Sant’Ana.

Assustado, Marcos saiu correndo do cemitério, e alguns minutos depois, passou a sentir fortes dores de cabeça, que duraram dias. Após este acontecimento, Marcos nunca mais veio à Igarapé-Miri, pois tinha medo de voltar a ver a moça do cemitério Bom Jesus.

A sepultura de Arissandra, é uma das primeiras ao lado esquerdo, na entrada do Cemitério da cidade de Igarapé-Miri. Arissandra era uma menina de 12 anos, que foi brutalmente assassinada pelo seu próprio pai, em abril de 1989. Ela morava no Rio Pindobal, interior de Igarapé-Miri, e por várias vezes, sofreu tentativas de abuso sexual pelo seu próprio pai, este nutria um ciúme doentio por ela, mas a menina e sua família, sempre ofereceram resistência. No ano de 2002, quando aconteceu este fato, Arissandra estaria com 25 anos.

Estes não foram os únicos casos, outros visitantes, também já teriam conhecido a moça do Cemitério Bom Jesus, durante a Festividade de Sant'Ana.                    


Baseado nos relatos de Dênis Araújo (morador de Boa Vista/RR) e Maria Benedita dos Santos conhecida popularmente por “Mãe Velha” (In memorian). Em vida, era moradora do Bairro do Jatuíra.

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