Ilustração: Railson Wallace |
Na década de 1930, Igarapé-Miri ainda era um lugar pacato que começava a se desenvolver como cidade. Veríssimo era um homem casado, pai de quatro filhos que morava em frente à foz do Rio Igarapé-Miri Velho, no final do local onde hoje está a Orla da Marambaia no Bairro da Matinha.
Veríssimo era casado com Maria, mas tinha uma amante chamada Romaria que morava no Rio Caji. Há algum tempo mantinha relação com sua amante, assim, Romaria acabou engravidando. O tempo passou e a barriga de sua amante foi crescendo, parecia uma gravidez normal.
Era noite de 30 de agosto de 1935, no Rio Caji, interior do município de Igarapé-Miri. Romaria estava prestes a dar a luz ao filho de Veríssimo. Ao sentir dor, Veríssimo imediatamente foi à casa de uma velha parteira que morava naquela localidade, ao retornar, a parteira deu início ao trabalho. Mas assim que retirou o bebê, a velha senhora teve uma grande surpresa, Romaria havia dado à luz a uma cobra, apavorada a parteira jogou a serpente no chão e acertou-lhe uma chinelada, assim matando aquele animal.
Mas Romária continuava a sentir dor, a parteira então percebeu que tinha outra cobra no ventre da amante de Veríssimo. Assim que iniciou o parto da segunda serpente, Veríssimo pediu a velha parteira que não matasse aquele animal. Ao retirar a cobra, perceberam que era uma serpente branca de aproximadamente 1 metro de comprimento, após o nascimento, a cobra foi poupada e colocada em uma bacia com água.
Sem saber o que fazer, assustado, surpreso e cansado, Veríssimo então foi dormir. Ao adormecer, imediatamente sonhou com uma mulher que o orientou a batizar a pequena cobra, soltá-la nas águas do Rio Caji e jogar leite em um redemoinho que iria aparecer no final de uma ponte feita de troncos de buritizeiros, pois lá seria a boca da pequena cobra. No dia seguinte, Veríssimo batizou a cobra de Rosalina e a soltou nas águas escuras do Rio Caji.
Já haviam passado 15 dias após o nascimento de Rosalina, Veríssimo então decidiu voltar para sua casa na cidade de Igarapé-Miri. Naquela época existiam poucos barcos movidos a motor e a maioria das viagens eram feitas de canoas a remo. Ele então se despediu de Romaria, embarcou na canoa e começou a remar, assim, deixando o Rio Caji. Alguns minutos após a saída, Veríssimo percebeu que a pequena cobra que ele havia soltado no rio, nadava atrás de sua canoa, seguindo-o.
Quando algum barco movido a motor passava próximo, a pequena cobra era levada pela maresia gerada pelo motor da embarcação. Veríssimo havia saído do Rio Caji às 7 horas da manhã e acabou chegando à cidade de Igarapé-Miri por volta das 22 horas, pois o tempo de viagem havia sido prolongado pela espera da pequena cobra que o seguia vagarosamente.
Ao chegar à sua casa Veríssimo contou a novidade para Maria, e pediu que sua esposa ajudasse a criar a pequena serpente que o seguiu até Igarapé-Miri. Inicialmente Maria ficou surpresa, mas depois acabou concordando e ajudou a criar aquele animal, chegando a preparar leite por várias vezes, alimentando a pequena cobra.
Assim, Rosalina se criou no Rio Igarapé-Miri, próximo de seu pai e irmãos. Rosalina era uma moça encantada em cobra, e uma das maneiras de se comunicar com seu pai era através dos terreiros de umbanda, onde o espírito da cobra se manifestava através de alguns médiuns. Aos sete anos, em uma dessas sessões, Rosalina pediu que chamassem seu pai e avisou-lhe que não precisaria mais ser alimentada por seus familiares, pois ela já dava conta de se alimentar sozinha, e avisou que iria passar a morar em um poço que fica na dobra do Rio Igarapé-Miri, em frente ao balneário chamado Jatuíra.
Ao chegar ao Jatuíra, Rosalina cavou um túnel que começava em seu poço no meio do Rio Igarapé-Miri, passava por baixo do balneário e acabava em um “respiradouro”, local onde a cobra grande costumava respirar, pois preferia evitar aparecer no rio. Esse respiradouro ficava há cerca de 200 metros da beira do rio, hoje esse túnel já está quase fechado pelo mato, mas na época em que Rosalina morava no Jatuíra podia-se constatar que quando a maré crescia no rio, também enchia naquele túnel que ficava no meio da floresta.
Rosalina então cresceu naquela localidade, e sendo uma moça encantada em cobra, nunca atacou as pessoas, chegando por várias vezes a salvar a vida de bêbados que caiam nas águas do rio. Em noites de luar quando Rosalina boiava nas águas e barcos passavam próximo, a enorme cobra mergulhava para as profundezas do rio Igarapé-Miri. Os moradores das localidades ribeirinhas próximas ao Jatuíra passavam de canoa próximo a serpente encantada, pois sabiam que Rosalina jamais os atacariam.
Nos períodos de Festa de Sant’Ana, a enorme cobra costumava boiar em frente a Igreja Matriz de Sant’Ana, e as pessoas que iam ao arraial para se divertir, ficavam admiradas da serpente que observava atentamente a movimentação daquela festividade, Rosalina, sempre voltava ao Jatuíra quando percebia que um grande número de pessoas se aglomerava para vê-la.
Rosalina também assumia a forma de uma linda moça para poder dançar nas festas daquela época ou para participar das missas no período de Festividade de Sant’Ana. A cobra grande costumava conversar com seu pai em sua forma humana, muitas pessoas relataram naquela época ter visto uma linda moça que dançava nos festejos, porém não bebia, não fumava e desaparecia misteriosamente.
Por várias vezes, Rosalina tentou quebrar o encanto que a aprisiona em um corpo de cobra. Em uma dessas tentativas, ela apareceu como uma linda moça para o senhor Zezinho Paraense que na época, cuidava do casarão que fica no balneário Jatuíra. A bela moça explicou sua situação, e pediu que ele quebrasse o encanto que a impedia de ter uma vida normal, irritado, Zezinho negou o pedido da cobra encantada. Naquela época Igarapé-Miri tinha uma fábrica de bebidas chamada Aurora, onde quebravam diariamente muitas garrafas. Irritado com o pedido de Rosalina, o senhor Zezinho, foi até essa fábrica, pediu os cacos de garrafas quebradas e jogou no poço do Jatuíra.
Com os vidros em seu poço, Rosalina golpeou-se gravemente chegando a quase morrer em decorrência dos ferimentos. Dos filhos de Veríssimo apenas um tinha coragem de se aproximar da serpente gigante, era ele que a mando de Maria, esposa de Veríssimo passava remédio em Rosalina quando ela se feria com os cacos de vidros que eram jogados em seu poço.
Em outra tentativa, Rosalina pediu para que um de seus irmãos a desencantasse. Pediu que ele pegasse uma caixa de fósforos, fosse até a beira do rio e que ao chegar ele iria ver uma cobra muito grande e assustadora, mas não deveria ter medo. Ao se aproximar da serpente, seu irmão teria que riscar o fósforo e jogar naquela cobra.
O irmão de Rosalina aceitou o desafio, mas ao descer na ponte feita de troncos de buritizeiros, ficou apavorado com aquela serpente monstruosa que viu e saiu correndo e gritando. Após o ocorrido uma enorme maresia cobriu aquela cobra que sumiu nas águas do rio, naquele momento o encanto de Rosalina havia sido redobrado.
Com o tempo Veríssimo passou a morar na boca do Rio Acará, e Rosalina foi atrás de seus familiares. Mas um dia, em uma sessão de Umbanda, Rosalina ordenou que chamassem seu pai e pediu a Veríssimo que retornasse a Igarapé-Miri, pois uma enorme Pirarara a mordia todos os dias. Veríssimo então voltou com a família para sua terra natal.
A família de Rosalina, também chegou a morar na Baía do Sol, próximo a Mosqueiro. A enorme cobra também se mudou para essa localidade, mas certo dia, Rosalina através de um senhor que morava naquele lugar, avisou seu pai que queria ir embora, pois um poraquê enorme a maltratava com descargas elétricas dolorosas. Rosalina não aguentaria por muito tempo. Quando Veríssimo retornou a Igarapé-Miri, a cobra já os aguardava boiada no rio.
O tempo passou e Rosalina cresceu descomunalmente, pois já estava da grossura de uma sumaumeira, e o poço do Jatuíra acabou ficando pequeno para a gigantesca serpente que em maré baixa fazia um grande esforço para não aparecer durante o dia. Em abril de 1956, Rosalina, então decidiu partir. A cobra chegou a morar na Praia do Farol em Belém, mas se mudou de lá por ser um lugar raso. A Cobra Grande do Jatuíra também morou no Amazonas, mas foi nos Lençóis Maranhenses que a enorme cobra fez sua morada.
Até hoje Rosalina aparece como uma linda moça nos terreiros de Umbanda de Igarapé-Miri. Dança, se diverte, mas não bebe e nem fuma.
👏👏👏👏
ResponderExcluirFiquei encartada com essa lenda! 👏👏👏
ResponderExcluirQue lenda mais linda 👏👏👏👏😍
ResponderExcluirMuito legal
ResponderExcluirCaracaaa que lenda lindaaaaaaa
ResponderExcluirGostei muito da lenda de Rosalina queria chegar a ver ela um dia em uma linda moça
ResponderExcluirQue linda lenda,certas horas até emociona a gente
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