OS ANJINHOS DA CAPELA DO BOM JESUS

Ilustração: Railson Wallace

Em meados de 1965, residia na Rua 15 de Novembro (Rua da Frente), cidade Igarapé-Miri, uma jovem chamada Julieta, que era afilhada do Senhor Raimundo Emiliano Pantoja. Na época, era muito comum padrinho e madrinha, criarem seus afilhados, pois muitos possuíam vida financeira bem mais confortável que a dos pais.

Julieta era uma adolescente dócil e obediente que tinha algumas vezes, favores solicitados pelos padrinhos. Em um final de tarde, sua madrinha, uma senhora conhecida como Dona Zefa, pediu-lhe que fosse até a casa da lavadeira de nome Eva, apanhar as roupas limpas que tinham sido lavadas no dia anterior. A casa da lavadeira localizava-se próximo a capela do Bom Jesus, que ficava ao lado do largo da prefeitura, onde hoje está a Praça Sarges Barros. 

Já passava das seis horas da tarde, Julieta caminhava rumo à casa da lavadeira, enquanto andava, algo estranho acontecia. À medida que se aproximava da capela do Bom Jesus, sentia calafrios que só aumentavam. A adolescente ficou intrigada, pois nunca havia tido aquele pressentimento antes.

Acostumada a fazer aquele percurso, Julieta tentou não se assustar com aquela sensação e continuou sua caminhada. Logo pensou em passar pelo lado oposto ao da capela, mas desistiu, pois era hábito religioso naquela época, passar por aquele local e reverenciar na porta da igreja com o sinal da cruz. 

Quando a moça chegou em frente a capela e iniciou a reverência, percebeu que ali dentro estavam duas crianças alvas, loiras com trajes brancos. Os pequenos brincavam, pulavam, corriam e davam risadas, não se importando com a intrusa que ali estava. Julieta fixou o olhar e percebeu que aquelas crianças não pareciam com nenhuma outra da vizinhança, pois a cidade era pequena e todos lá se conheciam. Preocupada, a moça acelerou os passos para logo chegar à casa de Dona Eva, para avisá-la sobre as crianças, pois poderiam estar perdidos por ali.

Ao chegar à casa da lavadeira, a moça contou o que tinha visto e teve a seguinte resposta de Dona Eva:

- Julieta, eles não são crianças, são anjos, e já foram vistos por muitos conhecidos que passaram no início da noite em frente a Capela do Bom Jesus, você nunca ouviu falar neles?

Julieta respondeu:

- Não Dona Eva, elas são crianças perdidas eu aposto que não são daqui, devem ter se perdido dos pais, vamos lá ver, vamos...

Mesmo sabendo que eram os dois anjinhos, Dona Eva aceitou o convite de Julieta e foi até o local acompanhada da adolescente. Ao chegarem à Capela do Bom Jesus, olharam minuciosamente todo o espaço e não encontraram nenhuma criança brincando dentro ou nos arredores daquele espaço religioso. Ali estavam apenas a imagem do Bom Jesus carregando a cruz e dois anjinhos, um de cada lado. 

Mesmo sem encontrar as duas crianças, Julieta afirmou para dona Eva:

- Eu juro que quando passei aqui ainda pouco, só estava a imagem do Bom Jesus, as imagens dos anjinhos não estavam aqui. O que tinha além do Bom Jesus, eram duas crianças alvinhas como o algodão brincando aqui no chão, por isso corri e fui lhe chamar, pensei que eram crianças perdidas, Ave Maria, cruz credo. 

Essa mesma estória foi contada por muitos outros moradores da cidade de Igarapé-Miri, que passavam em frente da capela no horário de seis horas da tarde. Contam ainda os antigos, que os anjos não ficavam somente na capela, mas corriam e brincavam pela praça, passeavam pela Igreja matriz, e pelas ruas próximas a capela. Porém, nunca fizeram maldades com ninguém.



Material cedido por alunos da Faculdade Aliança Polo de Igarapé-Miri.

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