O BOTO MÚSICO DA BOA ESPERANÇA

Ilustração: Railson Wallace

No final da década de 80, a Festividade de Santa Maria da Boa Esperança, constituía-se em um grande festejo que movimentava Igarapé-Miri, após o término da Festa de Sant’Ana, era a festividade religiosa mais aguardada pela população católica da cidade. O festejo, antes era realizada com grandes bailes, ladainhas, missas, queimas de fogos, círios, leilões e os arredores da pequena capela era todo ornamentado com lindas bandeirinhas coloridas, assim formando um belo arraial. O acesso para o local onde a santa era festejada, era feito através da Estrada Alves Teixeira, que é cortada pelo igarapé Mantible, que naquela época tinha as águas limpas e era constantemente usado para o lazer.

Era noite de baile na tradicional Festa de Santa Maria da Boa Esperança, já havia anoitecido e o grupo de músicos contratados para animar a festa ainda não havia iniciado seu show, pois faltava um dos componentes do grupo, o que tocava clarinete. Já estava ficando tarde e nada do tocador de clarinete chegar, de repente, chegou no arraial, um rapaz bonito, de pele branca, alto, olhos claros, terno, calça e sapato branco, chapéu na cabeça e cinturão preto. Todos estranharam aquele rapaz, ele não era da cidade ou dos interiores próximos. 

Os músicos estavam em frente ao barracão onde aconteceria a festa, quando o rapaz misterioso chegou, se aproximou deles e perguntou porque a festa ainda não havia começado, os músicos responderam que faltava o tocador de clarinete. Imediatamente aquele rapaz estranho e bem vestido, se ofereceu para tocar dizendo que tinha um clarinete e que sabia tocar muito bem, pediu alguns minutos para buscar seu instrumento e sumiu na escuridão do caminho, alguns minutos depois retornou com um clarinete lindo que de tão brilhante parecia ouro.

Inicialmente os músicos ficaram desconfiados, pois sequer conheciam aquele rapaz e imaginavam que ele não conseguiria tocar com a banda. Após a chegada do moço de branco, iniciaram o show e o rapaz misterioso surpreendeu a todos que faziam parte da grupo, pois tocava com uma afinação surpreendente que encantava a todos no baile, que dançavam com muita alegria.

Um dos músicos que estava perto do rapaz, passou a observar com atenção aquele moço que ficava com os pés inquietos, quando de repente o sapato do rapaz misterioso começou a bilhar, o que seria aquilo? Um sapato de última geração? Mas o que logo veio na cabeça do músico é que aquele rapaz era um boto, imediatamente avisou os outros componentes que também ficaram admirados. Já passava das 2 horas da madrugada, os músicos então, decidiram encurralar o suposto boto que ao perceber que seria cercado, foi mais esperto e saiu correndo em direção a saída do barracão, e quando chegou na Estrada Alves Teixeira, viu que mais de 10 homens o perseguiam. 

Ao sair da Estrada que dava acesso ao local dos festejos, o boto subiu correndo na Travessa Quintino Bocaiúva, mais precisamente na altura de onde hoje está o Banco da Amazônia, tirou o seu chapéu e jogou em direção ao grupo de pessoas que o seguiam, ao jogar o chapéu, o objeto se transformou em uma enorme arraia que atingiu alguns dos homens, depois o boto tirou seu cinturão e jogou em direção aos que continuavam lhe perseguindo, ao tirar, o cinturão se transformou em um poraquê enorme que por pouco não atingiu alguém. Já quase chegando na beira do Rio Igarapé-Miri, o Boto tirou e jogou os sapatos em direção aos seus perseguidores, ao joga-los, os sapatos se transformaram em peixes da espécie “Acari”, os ferrões chegaram a machucar um homem que pisou em um dos peixes. 

Quando chegou na beira do rio Igarapé-Miri, o boto olhou para os homens como quem debochava e jogou o clarinete em direção a eles, o instrumento logo se transformou em um enorme Pirarucu que por pouco não atingiu nenhum dos homens. Depois de jogar o clarinete, o homem mergulhou no rio e alguns segundos depois, apareceu boiando e pulando nas águas, um enorme boto.


Estória contada pelo Sr. João, morador do Bairro da Matinha.

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